domingo, 31 de agosto de 2008
A urna, de novo...
Em época de eleição, surgem muitas notícias sobre a famigerada urna eletrônica. A imagem que ilustra este post é uma dessas notícias, que saiu neste domingo (31/08/2008) no Correio Braziliense.
Para deixar as coisas bem claras, eu não sou contra o uso de equipamentos eletrônicos de votação. Muito pelo contrário, sou adepto do uso da informática para facilitar a vida das pessoas. O que me incomoda no caso da urna brasileira é a propaganda (veja no link o que realmente quero dizer com isso) feita em torno dela. E também a falta de transparência do processo eleitoral brasileiro.
O processo eleitoral é extremamente crítico num regime democrático e sua transparência e credibilidade são da maior importância. E a falta de transparência do processo eleitoral brasileiro tende a minar a sua credibilidade com o tempo.
Dito isso, temos a reportagem do Correio. E o problema já começa começa no título: Urnas mais seguras. Sem levar em conta o conteúdo da reportagem, seria uma excelente notícia. Quanto mais segura for a urna, melhor para todos. Mas a reportagem já começa com um equívoco: nunca foi detectada fraude nas urnas. Pode até ser, mas sempre que aparecem indícios, as autoridades rapidamente abafam o caso e desconversam. Assim é fácil: se não há investigação, não há como descobrir fraudes.
A reportagem continua afirmando que o motivo da maior segurança das urnas é um novo módulo de criptografia. E segue com declarações de que o novo módulo torna urna "praticamente inviolável". Só que a maioria dos sistemas que usam criptografia são quebrados usando falhas em outras partes do sistema, sem a necessidade de atacar os algoritmos criptográficos, como bem demonstrou o prof. Ross Anderson da Universidade de Cambridge em 1993. Mais ainda, este resultado é amplamente conhecido dentre os estudiosos de criptografia.
Ou seja, mesmo que o novo módulo criptográfico seja inviolável, isto não torna a urna inviolável. E mais, os algoritmos desenvolvidos no CEPESC são segredos de estado. Ou seja, enquanto forem utilizados, não há possibilidade de uma auditoria plena da urna eletrônica, indo contra o princípio de Kerckhoff, que diz que a segurança de um sistema criptográfico deve se basear no fato da chave, e não do algoritmo, ser secreta.
A reportagem também diz que os partidos políticos poderão testar o módulo de criptografia entre os dias 8 e 12 de setembro. Como assim? Uma semana? Nem nos melhores sonhos alguém teria esperança de quebrar um algoritmos criptográfico sério em uma semana. E, com certeza o pessoal do CEPESC é sério. Não infalível, mas sério. É ridículo dar um módulo binário para alguém analisar em uma semana e achar que vai fazer muita diferença.
No fundo, a reportagem não passa de uma boa peça de propaganda: devemos confiar cegamente no TSE e na Abin (ué, mas no mesmo jornal dizia que a Abin faz grampos ilegais...). Confiar cegamente no governo e aceitar de bom grado tudo que nos é empurrado goela abaixo. Ou será que o TSE tem medo de alguma coisa?
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